terça-feira, 18 de outubro de 2011

A dor que dói mais






Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
Martha Medeiros

Tire-o da cabeça


Você estava apaixonado por alguém e levou um fora. Acontece mais do que acidente de avião, desastre com romeiros e incêndio na floresta. Corações partidos é o grande drama nacional. O que fazer? Ainda não lançaram um manual de auto-ajuda que consiga eliminar nossa fossa, e dos amigos só podemos esperar uma frase, repetida à exaustão: tire esse cara da cabeça. Parece fácil. Mas alguém aí me diga: como é que se tira alguém de um lugar tão cheio de mistérios?

Gostar de alguém é função do coração, mas esquecer, não. É tarefa da nossa cabecinha, que aliás é nossa em termos: tem alguma coisa lá dentro que age por conta própria, sem dar satisfação. Quem dera um esforço de conscientização resolvesse o assunto: não gosto mais dele, não quero mais saber daquele prepotente, desapareça, um, dois e já!

Parece que funcionou. Você sai na rua para testar. Sim, você conseguiu: olhou vitrines, comeu um sorvete e folheou duas revistas sem derramar uma única lágrima. Até que começa a tocar uma música no rádio e desanda a maionese. Você não tirou coisa alguma da cabeça, ele ainda está lá, cantando baixinho pra você.

Táticas. Não ficar em casa relendo cartas e revendo fotos. Descole uma festa e produza-se para matar. Você bem que tenta, mas nada sai como o planejado. Os casais que se beijam ao seu lado são como socos no estômago. Você se sente uma retardada na pista de dança. Um carinha puxa papo com você e tudo o que ele diz é comparado com o que o seu ex diria, com o que o seu ex faria. Chamem o EccoSalva.

Livros. Um ótimo hábito, mas em vez de abstrair, você acha que tudo o que o escritor escreve é para você em particular, tudo tem semelhança com o que você está vivendo, mesmo que você esteja lendo sobre a erupção do Vesúvio que soterrou Pompéia.

Viajar. Quem vai na bagagem? Ele. Você fica olhando a paisagem pela janela do ônibus e só no que pensa é onde ele estará agora, sem notar que ele está ali mesmo, preso na sua mente.

Livrar-se de uma lembrança é um processo lento, impossível de programar. Ninguém consegue tirar alguém da cabeça na hora que quer, e às vezes a única solução é inverter o jogo: em vez de tentar não pensar na pessoa, esgotar a dor. Permitir-se recordar, chorar, ter saudade. Um dia a ferida cicatriza e você, de tão acostumada com ela, acaba por esquecê-la. Com fórceps é que a criatura não sai.
Martha Medeiros

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Quero;



Alguém que me olhe nos olhos quando falar comigo... Que antes de dormir, pense em mim quando eu estiver ausente e quase não consiga pegar no sono. 
Quero alguém que não me deixe ir, quando por medo, eu tente fugir do amor. Alguém que me convença de que vale a pena se entregar. Eu quero alguém que me veja como único ser que deseja... Que goste das minhas palhaçadas e que ria delas comigo... 
Alguém que me leve café na cama, mas não sempre, para assim eu ter a oportunidade de surpreender também... Alguém que não acredite que já conquistou tudo em mim... Mas que se dedique a me conquistar um pouco a cada dia. 
Alguém que me dê pequeninos presentes, mesmo que sejam um simples bombom, não importa! Que me mande um cartão, um torpedinho no celular, um email ou faça uma surpresa, sem precisar esperar uma data especial, mas que faça simplesmente porque se lembrou de mim com carinho.
Quero alguém que alugue filmes ou compre um disco ou livro para ver, ouvir ou ler comigo só para ficarmos juntos! Eu quero alguém que me beije extrapolando o simples verbo beijar...
Quero alguém que faça amor comigo sempre como se fosse a primeira vez e como também fosse a última... Que ache uma delícia me ver sorrindo. Alguém que me faça rir quando eu estiver triste ou abatida e que não me deixe desanimar, nem lamentar perdas ou fracassos eventuais...
Alguém que programe de vez em quando os nossos fins de semana, os nossos feriados ou férias. Quero alguém que acredite em mim, me dê força, que me ache a pessoa mais corajosa do mundo, mesmo que eu não seja! Alguém que me admire e que me diga isso, nem que seja num olhar ou num gesto.
Quero alguém que me acorde no meio da madrugada me beijando, acariciando. Alguém que brinque com o meu cabelo e que me faça cafuné na hora de dormir... 
Quero alguém que admita que precisa de cuidados, que me peça massagem nas costas ou carinho quando sentir vontade. Alguém que me abrace, me beije e me toque, sem sentir vergonha  na frente de um milhão de pessoas...
Alguém que abra os braços quando se encontrar comigo, mesmo que a gente tenha se separado há apenas uma hora... Que se despeça de mim mesmo com um beijo ou carinho mesmo que seja para ir comprar pão na padaria... Que escreva bilhetes de amor e coloque nos lugares mais inesperados só para eu achar e me sentir amada.
Quero alguém que me pergunte como foi o meu dia e que me fale como foi o seu e que me envolva naturalmente nas coisas que faz e as queira compartilhar comigo.
Alguém que seja capaz de pedir desculpas quando reconhecer que errou e que também que seja capaz de perdoar os meus erros. Que me chame para dançar juntinho lá no meio da sala com aquele som bem baixinho, as canções que mais gostar. 
Quero alguém para conversar comigo sobre qualquer coisa, mesmo que seja sobre a quadratura do ovo, o sexo dos anjos gnomos ou a vida em Plutão e os discos voadores...
Que seja capaz de falar de coisas profundas ou conversar abobrinhas, sem preocupação de quem está certo ou errado... Só pela companhia um do outro.
Quero alguém que não durma enquanto eu não chegar... Que me ligue sem se sentir obrigado, mas que diga: "Obrigado meu amor por você existir e por estar sempre ao meu lado!"  Alguém que cuide de mim, das minhas coisas, das nossas coisas, simplesmente porque se sente feliz com essas atitudes, e nunca por qualquer obrigação. 
Quero alguém que ande de mãos dadas comigo, morrendo de orgulho (sempre)... Alguém que me aperte para me esquentar naquele frio... Alguém que faça o melhor amor do mundo a cada noite, a qualquer hora, mesmo que esse amor seja apenas ficar abraçadinho comigo e me fazendo carinho ou me dizendo coisas que me façam sentir a mulher mais especial do mundo...E queira que esse momento nunca acabe!
Quero alguém que se lembre da primeira palavra que eu disse quando me conheceu... Que roube a minha foto 3x4 na carteira, mesmo depois de estarmos juntos há muitos anos. Alguém que goste das coisas simples da vida.
Alguém que acredite que a vida tenha nos unido para que possamos fazer o outro se sentir ainda mais feliz! Enfim, eu quero alguém que valorize cada ruga que surgir no meu rosto... Alguém que não esqueça dos olhares e sentimentos que nos aproximaram... E que não esqueça que não foram simplesmente os nossos corpos que se apaixonaram, mas também os nossos corações que conseguiram enxergar além do que os olhos se limitam a ver...

Eu quero alguém para chamar de “meu homem”, não pelo sentimento de posse, mas pela certeza de que ele é o meu amor, e que estará sempre ao meu lado!

Natália M. Ribeiro